1. Introdução
Em primeiro lugar, reconheço que um guia para pintura de gabinetes não pode ser realmente rápido. Isto porque pintar um gabinete implica uma série de procedimentos preparatórios. Além disso, o processo de pintura em si demanda algum tempo, não sendo um trabalho de minutos ou mesmo poucas horas. Não raro começamos num dia e terminamos noutro. As técnicas empregadas variam de acordo com a experiência e a prática de cada profissional. É claro que existem procedimentos padrão, mas o dia-a-dia do pintor lhe ensina um sem número de manhas e macetes que ele acaba adaptando ao tipo de serviço que vai executar. De toda forma, tentaremos traçar algumas linhas gerais, para que o casemodder possa realizar em casa e com suas próprias mãos alguma coisa relativa a pintura. Este não é um manual de pintura, nem uma obra completa. Trata-se de uma coleção de informações obtidas por mim depois de realizar algumas pinturas em gabinetes e que não se esgota por si só. A pintura é uma “ciência” em constante aprimoramento, logo, muitas informações novas surgirão e você deve ficar atento.
Como todos sabemos, o gabinete geralmente é fabricado de chapa e perfis de aço e partes plásticas. Como acabamento da parte externa, usa-se a pintura eletrostática(epoxi) texturizada, que produz um efeito fosco e de boa durabilidade, sendo mais barato na produção industrial que outros métodos. Existem gabinetes feitos de alumínio, mas, como são raros, não os abordaremos neste Guia.
2. Técnicas de pintura
Existem várias técnicas para pintar chapas metálicas, sendo a mais usada a feita com o uso de pistola de ar comprimido. Esta é uma técnica profissional, a que poucos casemodders têm acesso. Contudo, dado o fato que a técnica é praticamente a mesma da pintura com tinta spray – esta, sim, mais acessível -, a tomaremos como base para este Guia.
3. Material necessário
Para realizar um serviço de pintura com tinta spray você irá precisar dos seguintes materiais:
- lixas de diversas granaduras(320, 360, 400, 600, 800, 1000, 1200);
- primer universal;
- selador para plásticos;
- tintas;
- verniz;
- estopa;
- fita crepe;
- thinner;
- solvente;
- pincéis;
- jornal;
- material de proteção(luvas, óculos, etc).
3.1. Lixas
Elas servem para deixar a superfície a ser tratada com um mínimo de rugosidade necessária à aderência da tinta ou para eliminar o excesso de rugosidade. Devem ser usadas sempre com água e na granadura certa para cada serviço, lembrando que, quanto maior o número, mais fina a granadura. Logo, uma lixa 1200 mais parece uma folha de papel áspera, enquanto uma lixa 320 é bem mais granulada e pode arrancar sua pele. Para pequenos retoques pode-se dispensar a água. Deve-se ainda levar em conta que a lixa desgasta a superfície plástica rapidamente e pode deformá-la permanentemente, portanto, use-a com cautela para não danificar pequenas partes plásticas. Mas, se isso ocorrer, a saída é retificar o defeito usando-se massa plástica rápida, que é um produto usado em chapeação de veículos e consertos de móveis. Esta massa é aplicada com uma espátula sobre o defeito, de forma a retificá-lo. Deixa-se secar por uma ou duas horas e lixa-se até que a superfície fique bem lisa e uniforme. Depois o processo segue como será descrito adiante.
3.2. Primer
O Primer universal(alguns pronunciam “praimer”), também conhecido como fundo universal, é aplicado sobre a chapa metálica para que a tinta “grude”. A adesão da tinta à superfície é um processo químico, no qual elementos presentes na tinta, fundamentalmente o “thinner”, se fundem com um elemento que é aplicado sobre a superfície, formando o fundo. Este elemento é o Primer, ou fundo. Sua aplicação em chapa nua é necessária e imprescindível, porque a tinta não adere à chapa metálica pura. No caso de computadores, como eles já possuem uma pintura epoxi original, esta acaba funcionando como fundo. Portanto, a aplicação do primer é optativa, podendo ou não ser feita, dependendo do lixamento feito anteriormente. Se o lixamento foi feito de forma a deixar uma camada de tinta original sobre a chapa, apenas retirando a camada superficial da pintura, a tinta nova pode ser aplicada por cima, sem a necessidade do primer. Existem vários tipos de primer, um para cada material, como, por exemplo, alumínio, aço galvanizado, metais não ferrosos, e também para a tinta que será aplicada, como, por exemplo, laca nitrocelulósica(duco), base poliéster, esmalte sintético, etc. No nosso caso, o primer universal serve, desde que não seja usada tinta PU(que é mais cara e inviável, pois requer um fundo PU, mais caro também).
A aplicação do primer é feita primeiramente com uma camada bem fina, quase uma fumaça. Deixa-se secar por 20 a 30 minutos e aplica-se a camada definitiva, mais concentrada. Lixa-se para retirar a rugosidade com lixa 360 e aplica-se a tinta.
3.3. Selador para plásticos
Este material é o “fundo” aplicado em superfícies plásticas. Sem ele, a tinta aplicada não gruda no plástico. O lixamento prévio do plástico para aplicação da tinta não é obrigatório. Se for feito, deve-se usar lixa 400 ou 600 e água. Uma boa lavagem com detergente, sim, é obrigatória, pois não pode haver qualquer sinal de gordura na superfície.
A aplicação é feita em duas camadas, a primeira mais leve, com intervalo de 30 minutos para secagem e a segunda mais concentrada, devendo secar de meia a uma hora antes de aplicar a tinta.
3.4. Tintas
Esta parte é muito importante e deve ser bem entendida para evitar gastos desnecessários. Quer se escolha pintar com spray ou com pistola, deve-se atentar para uma tinta de boa qualidade. Se for spray, recomendamos a ColorGin, em suas várias modalidades. Lembrando sempre que o bom resultado da pintura com spray vai depender do cuidado na aplicação e da correta preparação. A tinta indicada para a pintura de gabinetes é a tinta automotiva, na modalidade laca nitrocelulósica ou esmalte sintético, para cores sólidas e base poliéster, para cores metálicas. De qualquer forma, devem ser seguidos os passos descritos na preparação da chapa, mais adiante.
Uma excelente opção para quem deseja pintar seu gabinete de preto com efeito fosco, mas liso, não rugoso, é a tinta vinílica. Ela é usada na pintura de peças metálicas expostas ao calor e às intempéries, como canos de escapamento de motos. Dispensa aplicação de fundo e pode ser usada também em plásticos, desde que seja feito o lixamento prévio das superfícies.
3.5. Verniz
Para cores sólidas usa-se o verniz comum para pintura. Para cores metálicas feitas com tinta base poliéster, usa-se o verniz bi-componente. Sua aplicação é feita logo após a tinta, aplicando-se primeiro uma camada fina e em seguida uma camada mais consistente. A secagem completa dura 24 horas.
3.6. Estopa, fita crepe, thinner, solvente, jornal e material de proteção
A estopa serve para limpeza das peças, a fita crepe para isolar partes que não serão pintadas, o thinner e o solvente para limpar manchas de tinta das mãos e outros lugares onde a tinta pingou(ATENÇÃO! Não use o thinner puro para limpar partes plásticas do computador. Ele literalmente “come” o plástico. Dissolva uma parte de thinner em quatro partes de solvente ou use solvente puro. Álcool também funciona bem), o jornal para proteção do piso e outras superfícies que não serão pintadas e o material de proteção fica a cargo do seu bom senso.
4. Preparação e Pintura
Vamos partir do princípio que aproveitaremos a pintura original do gabinete como base(fundo) para a tinta. A preparação das superfícies a serem pintadas é etapa de especial importância. Depois de desmontadas as partes a serem pintadas, faça o seguinte:
- lixe a chapa metálica com lixa 400 e água, até tirar o brilho da pintura original; deixe secar bem;
- se estiver pintando com spray, agite bem a lata e a mantenha a 15 cm da chapa. Faça movimentos laterais, amplos e regulares, até que a chapa esteja bem coberta pela tinta, mas não exagere, evitando que a tinta escorra e se acumule nas bordas da chapa. Deixe a chapa deitada no chão ou pendurada num arame. Comece a pintar pelo lado de dentro. Neste lado não é necessária muita tinta, apenas o suficiente para cobrir a pintura original. Aplique a tinta escolhida(spray ou pistola), com a primeira demão bem fininha. Deixe secar por uns dez minutos e aplique a segunda demão, mais concentrada.
- Em seguida, – depois que a tinta estiver seca ao toque – aplique o verniz, primeiro em uma demão fina e depois mais concentrada. Repita o processo com todas as chapas metálicas e conclua esta fase. O verniz só estará completamente seco em 24 horas. Antes disso, não toque nas chapas.
- Agora vamos para os plásticos. Lave bem as peças que deseja pintar, com água, detergente neutro e esponja, retirando sujeiras, encardidos e gorduras. Retire o excesso de água com um pano limpo e deixe secar bem.
- Lixe com lixa 400 as partes que quer pintar, até que o plástico fique fosco, mas tenha cuidado para não arranhá-lo. Lave novamente e seque bem. Lave bem as mãos. Caso não deseje pintar algum pedaço, isole as partes que não quer pintar com fita crepe e jornal. Use um estilete para fazer os cortes na fita de forma precisa.
- Aplique o selador, da mesma forma que o primer, a tinta e o verniz, isto é, primeiro uma demão fina e depois uma mais consistente. Aplicada a primeira demão, espera-se meia hora e lixa-se com lixa 320, de leve, para quebrar o brilho; aplica-se a segunda demão, espere secar uma hora e está pronto para pintar.
- Aplique a tinta com os mesmos cuidados e da mesma forma que foi feito na chapa metálica, conforme descrito no item “2”.
- Repita o processo do item “3” para o verniz.
- Se tudo foi feito como indicado, sua pintura está pronta, basta esperar a secagem, que só ocorrerá por completo em 24 horas. Antes disso, evite tocar as peças pintadas.
5. Conclusão
Estas orientações devem servir como guia para quem não está acostumado a pintar, mas não espere um resultado profissional na primeira vez. Tenha em mente que o número de variáveis que podem interferir e definir um bom ou mau resultado é muito grande e impossível de ser abordado neste artigo. Só a prática e a repetição vão dizer. Caso tenha dúvidas, poste-as no Fórum que tentaremos ajudar, dentro de nossas limitações, é claro. Afinal, quem disse que sabemos tudo? Aprender e ensinar é uma via de mão dupla.
Se você não se sentir à vontade ou ficar com medo de estragar seu gabinete, procure orientação profissional. Às vezes vale mais a pena pagar por um serviço bem feito que danificar permanentemente seu equipamento. Você pode argumentar: Ah, mas aí não tem graça, não fui em que fiz! Nada disso! Não esqueça que você é quem vai dizer ao pintor como ele deverá pintar, com que cores, etc. Recomendo procurar oficinas de pintura de automóveis, geladeiras ou a CasemodBR. Eles usam a mesma técnica que estamos abordando.
